Laocoonte ou a maldição de saber

laocoonte-portadaLaocoonte suplicou aos seus compatriotas que incendiassem o cavalo de Tróia para se assegurarem não estar perante uma armadilha. Não foi ouvido, o que acabou por provocar a ira da deusa Atena que o castigou com a cegueira. Os troianos assumiram que o seu sábio estava a ser castigado em represália da mutilação de Sinnon, o emissário grego incumbido da missão de oferecer o cavalo.

Virgílio, na Eneida, atribui-lhe o seguinte dizer:

Equo ne credite, Teucri

Quiquid id est, teneo Danaos et dona ferentis

(não confíeis no cavalo, troianos

o que quer que seja, temei os gregos que trazem oferendas)

Quintus de Esmirna, na sua obra Post Homerica dedica um capítulo à queda da cidade onde Laoconte e os seus filhos são modidos por serpentes.

Plínio o velho, historiador romano, faz referência a uma estátua, localizada no palácio do imperador Tito que se presume ser a que se refere a imagem que acompanha este artigo. A autoria da obra de arte é atribuída por Plínio a três escultores da ilha de Rodes: Agesander, Athenodoros e Polydorus. A obra de arte é depois perdida para ser reencontrada séculos mais tarde – quase um milénio – na época de Miguel Ângelo. A sua presença influenciará toda a escultura do Renascimento, incendiando debates e formas de concetualizar a arte.

Uma dessas discussões tinha que ver com a posição do braço direito de Laocoonte. Estava perdido. O Papa e um grupo de artistas defendia que ele se erguia numa posição dominante. O famoso mestre italiano, Miguel ângelo, sustentava que não: o braço estaria pousado sobre o filho que está à sua direita – à semelhança da posição do braço esquerdo.

A posição papal ganhou. As cópias foram efetuadas segundo esses ditames. Só que, séculos mais parte, encontrou-se o braço perdido… que deu razão a Miguel Ângelo. Enfim, a outra escala, o pintor e escultor italiano experimentou a frustração de Laoconte: a de ter razão e não ser ouvido.

Cobiçada por Napoleão, que chegou a levá-la para Paris, a estátua pode ser hoje apreciada no Museu do Vaticano.

(há anos escrevemos texto lírico sobre este tema que pode ler aqui).

*

Também poderá estar interessado em ler:

Mitos do eterno retorno

A palavra de honra: ditos e por dizer

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s