O crime foi hediondo. Houve um escabroso mas inconsequente ataque à liberdade de expressão. A onda de solidariedade que se lhe seguiu foi bonita… mas também assustadora: os ganhos políticos dos intervenientes, a ideia de não nos dividirmos – que remetem para a ideia de pensamento único.
Je suis Charlie proclamaram muitos, eu incluído. Rapidamente, porém, a unanimidade foi-se fragmentando. Surgiu depois a polaridade oposta: je ne suis pas Charlie – por estas e aquelas razões.
O acontecimento passado vai enchendo-se de novos acontecimentos e de um infinito número de racionalizações.
Charlie servirá de bandeira a que decisões? À lenta construção de um Estado securitário? À alimentação perpétua do medo? À construção de reticências à livre circulação de pessoas e bens no espaço europeu?
A que decisores políticos agradaria uma resposta afirmativa a estas questões?
Ser ou não ser Charlie: eis a questão.