Apesar de te chamar leitor, o texto não fala especificamente para ti. Da mesma forma que quando aqui digo eu, não sou o escritor – apesar de o ser. Um pouco confuso? Vamos por partes. O leitor verdadeiro sabe que o texto se dirige a um tu plural, a uma comunidade. Sabe que existem outros que, como ele, se debruçam sobre as frases.
O texto não é um ecrã pardo, rasurado por um qualquer telecomando, ao sabor de inconsequentes omnipotências domésticas. Por isso, caro tu, se queres ser leitor, peço-te que deixes lá fora o teu telecomando, te venhas sentar e usufruir de um pouco de pensamento comum – porque é um pensamento contigo. É essa a tarefa insana a que me proponho: escrever, expor um pouco da minha humanidade em todas as suas contradições. É pedante? Uma ambição demasiada? Provavelmente terás razão: peço desculpa sem figuras de estilo.
Em todo o caso, julgo-me obrigado a concretizar. Assim, quando escrevi «para muitos de nós é isso que a bicicleta é, como meio de transporte: um instrumento que não serve por ineficaz» é porque acredito que não é a solução em termos de pensamento estratégico para a grande urbe urbana. Isso não quer dizer que não tenha uma bicicleta, que não faça grandes passeios e que por vezes até vá a pé para o emprego – uma caminhada com a duração aproximada de 1h 30 minutos. No entanto, peço-te que me concedas esta compreensão: não escrevo para o leitor que anda de bicicleta, ou sequer para o que não anda. Escrevo, isso sim, para o leitor – aquele que percebe que não está só no ato da leitura.
É isto que te peço leitor: no fundo, que completes o gesto da escrita.