Num filme ou série que presenciei na televisão, deparei-me com a seguinte cena: um casal conversa num elevador, enquanto aguardava pelo andar desejado. Estão de frente para a porta. Nas suas costas, um amplo espelho. As portas abrem-se, entram e saem pessoas. é então que a sensação de estranheza se torna evidente: a câmara filmou a cena de frente para o casal, defronte do espelho, mas é invisível no reflexo.
Estamos lá mas é como se não estivéssemos – olhamos de um lugar divino. Voltemos à terra, imagino o que me diriam: a pós-produção tratou de corrigir as imagens, de limpar o camara man da cena. No entanto, esse é apenas o truque, agora tornado possível pela evolução tecnológica, que alicerça uma nova linguagem mediática.
A imagem é a realidade. É algo superior à realidade, uma vez que dispensa o caos inerente ao mundo fornecendo-nos relances simplificados que dispensam, ou julgam dispensar, a perspectiva – o olhar da câmara.
Mas o que isso nos traz? Ou seja, que ensinamentos estão aqui em jogo? A minha opinião é pessimista: trata-se de uma linguagem dogmática e empobrecedora: a imagem dispensa as mil palavras, aquelas que abrem porta à subjectividade do mundo, convidando-nos assim ao pensamento simples e estereotipado.
RT
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