Nos últimos anos, diversas televisões nacionais foram invadidas pelos concursos mais improváveis: fechavam-se pessoas em casas, filmando depois as suas interacções e especulando sobre elas; acorrentavam-se seres humanos, entre muitas outras situações. Em certos países europeus, chegou-se inclusive a pensar em fazer um programa com um doente terminal e um conjunto de possíveis receptores dos órgãos a doar, mas a loucura não foi adiante. Denominou-se de reality show este tipo de produções.
Por outro lado, quando escutámos alguns directores de programação, condecorados pela árdua vitória na luta pelas audiências, eles evitaram dizer se se revêem na grelha que construíram: encaram-se simplesmente como técnicos, cuja principal responsabilidade é dar às massas o que elas querem ver. Estamos, pois, perante uma política de pão e circo. Dir-se-ia que as televisões e rádios abdicaram da sua responsabilidade educativa, em favor de uma melhor posição no sharing: mais pessoas a ver, significa depois um maior retorno publicitário.
Mas será que não existe uma educação subliminar em todas as mensagens emitidas? Seria impossível a sua ausência…
Muitos dos nossos jovens desde muito cedo se habituaram a presenciar a este tipo de concursos… E com que mensagens têm de lidar? Os concursos oscilam entre diversas linhas de ensinamento: toda a pessoa tem um preço; o dinheiro prevalece sobre a dignidade; surgir na televisão é uma benece tão grande que merece todos os sacrifícios.
Esses concursos mais agressivos perderam, nos últimos tempos, a sua preponderância. Aposta-se agora em certas vertentes mais contidas, no entanto, o sucesso passado estará sempre à espreita… Estamos em crer que, mais tarde ou mais cedo, seremos novamente inundados por essa febre. A linguagem televisiva tem um grande poder de envenenamento…
Constou-nos o seguinte acontecimento: num desses concursos, em que as pessoas eram algemadas e atiradas para uma ilha algures, vários desses concorrentes cruzaram-se com alguns locais que se mostraram estarrecidos. Para eles, era completamente estranha essa fome de fazer tudo para ganhar dinheiro… Pelo menos para se mostrarem, porque em muitos desses formatos apenas um deles tem um prémio monetário, cabendo aos outros os benefícios de alguma fama e diversos proventos duvidosos, como o de ter uma vida inteiramente devassada.
O mais curioso de tudo isto é que as pessoas indignadas pertenciam a um desses países que denominamos como sub-desenvolvidos.
RT, O Primeiro de Janeiro, 11 Junho 2008
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