mas as empresas ligadas ao crédito continuam a desenvolver o negócio. É ver, um pouco por toda a cidade, em outdoors, anúncios a créditos pessoais em que pontificam imagens de mulheres felizes e realizadas. Depois, procurem-se os asteriscos com TANB de 23% ao ano ou similares, taxas de juro insuportáveis… Recorde-se que, por percentagens bastante inferiores, o nosso país teve de pedir ajuda internacional. Mas que faz o Estado? Fixou, através do Banco de Portugal, a aplicação máxima – 36%, imagine-se só!
Assim, interrogamo-nos: como é possível a existência destas ofertas, sobretudo num cenário em que as falências familiares começam a somar-se em catadupa? As tragédias domésticas acumulam-se com custos, a médio e longo prazo, que só agora começamos a adivinhar.
Outro sinal deste estado de coisas é as lojas que se dedicam à compra e venda de ouro. Nas últimas semanas, reparámos, espalhadas pela cidade, em ofertas do género: troque o seu ouro por um determinado modelo de telemóvel. Não conhecemos os pormenores do negócio. Em todo o caso, estamos perante uma proposta que incentiva o consumo. Pode ser até uma estratégia de pressionar os pais a dar aos seus filhos este género de bens e, assim, alargar o mercado deste tipo de empresas.
Chamámos a atenção, noutro texto, para a importância de uma educação para um consumo responsável. Sublinhamos agora o dever que cabe ao Estado de regulamentar este setor. Regulamentar no sentido de proteger as famílias de se envolverem em negócios que serão danosos.
Estamos perante a questão da liberdade individual versus a saúde e bem-estar das populações. Não terá o senhor Fonseca o direito de fumar ou de comer bolas de Berlim todos os dias? Tem esse direito… O problema é que o sistema de saúde não comportará as consequências de muitos senhores Fonsecas. Novamente: não terá o senhor Fonseca o direito de vender o seu ouro ou de contrair um empréstimo nas condições que entender? Terá… Só que depois poderá falir a sua família. E que liberdade possuirá então?
Como em tudo, trata-se de uma questão de equilíbrio entre as liberdades individuais e a segurança de todos nós como população que tem de ser pensada (e protegida) globalmente. Parece-nos que, dada a contração económica a que se assiste, temos de passar de um paradigma consumista para um outro mais comedido… A regulamentação do acesso ao dinheiro, no caso o crédito individual, terá de ser um instrumento mais a utilizar nesta transformação.
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