Este trabalho põe em causa a utilização de estratégias coletivas de comunicação de massa na área da educação para a saúde. Associa esta forma de concetualizar a intervenção relaciona-se com um modo de ver a doença como motivação exógena (conceito de Laplantine), em que há uma causa exterior que explica o aparecimento da doença. Nesta sequência, interpreta-se as doenças relacionadas com os modos de vida como uma causa exterior.
Os profissionais desta linha de pensamento, ao adotarem estes conceitos, tornam a educação normativa: «é que alguém, além do sujeito, conhece melhor o que é apropriado para ele e para todos indistintamente». Os autores defendem ainda que a educação em saúde teve origem marcada por uma prática e um discurso coercivos e normativos. De facto o saber não resulta nem imediatamente nem necessariamente em mudança de comportamento.
Deste modo, e segundo os autores, a educação em saúde moderna poderá organizar-se tendo em linha de conta os seguintes axiomas:
1 axioma
Os comportamentos traduzem não apenas o saber do sujeito mas as suas perceções, valores, representações simbólicas, crenças, vertente emocional. Será necessário reconhecer o sujeito como um elemento ativo desta relação pedagógica com diferentes valores e motivações.
2 axioma
A educação em saúde deve ter em linha de conta as identificação das representações dos sujeitos sobre a doença, isto é quais as suas crenças e as suas falsas crenças. De que modo estes elementos poderão ser introduzidos na relação pedagógica
3 axioma
As práticas constituem a expressão de um sistema de representações e de esquemas de pensamento. Será indispensável mobilizar estas práticas e representações em termos da relação educativa em saúde que se pretenda estabelecer.
4 axioma
Tem que ver com o aprofundamento das representações e a sua eventual relação com a mudança de práticas. «Aquilo que se pensa tem papel preponderante sobre aquilo que se faz» (203). Para isso será indispensável a construção de conhecimento em conjunto com o sujeito ou sujeitos. Abandona-se assim uma relação de causalidade entre representação e prática, ou entre as representações e, por exemplo, a experiência da enfermidade.
«Enquanto educador em saúde, esta é uma tentativa de abdicar de um poder fictício e permitir ser seduzido pelo outro para criar novas ou outras representações. Aprender a relativizar os conhecimentos e permitir trocas possiveis com os sujeitos com os quais se relaciona em seu processo saúde-doença» (204).
Trata-se de um trabalho de 2005 mas que é atual e põe em causa muito do trabalho da educação para a saúde, como especificamente a educação em saúde mais relacionada com a experiência do adoecer ou de dolência.
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Referência: Gazzinelli, Maria Flávia, et al. “Educação em saúde: conhecimentos, representações sociais e experiências da doença Health education: knowledge, social representation, and illness.” Cad. Saúde Pública 21.1 (2005): 200-206.
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Revisão do artigo: Delevopment of a serious game for children with hemophilia