As novas tecnologias estimulam as crianças e adolescentes relativamente a áreas que são desconhecidas dos seus pais. A figura do adulto desarmado perante o saber do seu filho não é estranha à maior parte de nós. A aceleração tecnológica vem, em parte, erodir a ideia de que a idade é um posto. Os mais novos exploram os instrumentos com os quais interagem, não caindo tão facilmente em rotinas, conhecendo-os mais a fundo. Esse facto acaba por permitir-lhes uma abertura para a descoberta e para o inesperado.
Existem desvantagens nesta introdução do tecnológico no desenvolvimento humano – na sua dimensão psicológica. A utilização da internet, a título de ilustração, fragmenta a atenção num sem número de estímulos sucessivos. Muitos psicólogos notam nas crianças de agora alguma imaturidade em relação ao desenho, talvez porque muitos deles são disponibilizados em suportes informáticos e são neles “pintados”. Este aspecto da motricidade fina poderá, nalgumas situações, não ser tão estimulada em comparação a crianças de outras épocas.
As redes sociais e outras formas de interacção on-line permitem a manutenção de amigos antigos, mas também impõem desafios no que diz respeito às informações que se partilham. Existe, assim, dentro do contexto de uma maior utilização da internet contextos positivos e oportunidades de crescimento, mas também riscos e desafios educativos. Se pensarmos bem, muitos desses desafios têm que ver com temas que se replicaram ao longo de gerações: o que é a amizade?; como nos devemos relacionar com os outros?; o que pretendemos de uma relação afectiva? São temas eternos, por assim dizer, mas agora transpostos para o uso que se faz do virtual.
No fundo, os mais novos desenvolvem um saber fazer específico que por ventura pode ultrapassar o das gerações cuidadoras. Ao mesmo tempo, esse saber fazer não deve iludir o que nos parece essencial: a dimensão afectiva permanece a mesma, sem grandes alterações, porque se trata de uma dimensão inerente ao próprio desenvolvimento humano.
O educador deve ser capaz de ver para além das aparências. Não deve ficar refém do aparato tecnológico ou sentir-se em falta ou inseguro por não conhecer este ou aquela aplicação informática. O que está verdadeiramente em jogo é uma outra questão: a utilização que a criança faz desses meios, como neles se expõe, a forma como eles são pretexto para a formação de novos laços afectivos.
Colhemos a lição do Avô Cantigas numa entrevista radiofónica em que se discutiam as mudanças e os novos contextos de socialização dos mais novos. O Avô disse que sentia os seus públicos do mesmo modo de há vinte anos atrás. E é a isto que ele, no fundo, se referia: as emoções, os medos e entusiasmos são os mesmos, apesar das novas máscaras tecnológicas.
Originalmente publicado no semanário Primeira Mão, 21 de agosto de 2011.
*
Também poderá estar interessado em ler:
O desenvolvimento e os mundos virtuais
Sobre o deficit de atenção e hiperatividade