Os videojogos: notas para um debate

Logotipo do jornal Primeira MãoA tecnologia é apropriada e acaba por assumir funções centrais na vida de todos nós. Ela cria necessidades, torna outras mais facilmente satisfeitas, mas também interage connosco, tornando-nos diferentes. Assim, enumeremos alguns factos: o uso da internet pode fazer com que as capacidades de atenção e concentração não sejam tão estimuladas. Existem também numerosos casos de pessoas que se viciam na internet ou ainda em videojogos.

É sempre difícil e até errado, estabelecer comparações simplistas ou conexões unívocas a propósito do comportamento humano. Vamos, no entanto, listar alguns factores que ajudarão a balizar esta temática. É hoje relativamente consensual que jogos inapropriados para a idade ou que estimulem comportamentos agressivos não são protectores em termos do desenvolvimento da criança. Sabe-se também que são os rapazes os mais propensos ao jogo e, especialmente, a jogos não apropriados às suas idades.

Que atitudes assumir perante estes dados? As práticas parentais desempenham aqui um papel de central importância. O estabelecimento de limites é um dos vectores essenciais. De facto, a existência de regras, ou se quisermos a supervisão do adulto, torna-se indispensável no sentido de evitar comportamentos compulsivos em relação aos videojogos. Um outro vector tem que ver com o respeito pela autonomia dos mais novos. Eles devem aprender a fazer escolhas, reflectir sobre consequências e proceder em conformidade. A arte consiste, precisamente, no doseamento sábio dos dois elementos.

Um terceira via prende-se com uma prática específica: o jogo conjunto. Diversas investigações têm vindo a debruçar-se sobre pais e mães que jogam (jogos apropriados à idade) com os seus filhos. Trata-se da partilha de experiências, de cooperação em torno de objectivos comuns e também de situações que envolvem alguma competição.

O jogo conjunto, no contexto que sumariamente descrevemos, é protector, relacionando-se positivamente com menores níveis de agressividade e maior autoestima. Também é certo que estes efeitos positivos são mais visíveis nelas do que neles.

Traçámos várias notas sobre o impacto dos videojogos no desenvolvimento dos mais novos. Como noutras áreas, a supervisão, o respeito pela autonomia mas também os afectos despoletados no jogo conjunto desempenham centrais funções.

Originalmente publicado no semanário Primeira Mão, 25 de junho de 2011.

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