É mais fácil dizer quando não estás, quando uma ausência relativa apaga o risco do dizer. Somos todos um pouco assim. Heloísa confessou o desejo ao papel: entregou-se simbolicamente, antes de o fazer no seu corpo. Escreveu-lhe depois: falou sobre a entrega para a evocar novamente nos sentidos ao imaginar-se para ele.
Abelardo sabia o que fazia – ou vangloriava-se perante terceiros? – os gestos que lançava na sua escrita preparavam os que viriam a seguir, no mundo real.
Freud, passado meio milénio, propôs a técnica da associação livre, pois achava que se terapeuta e cliente não mantivessem contacto ocular, os conteúdos seriam acedidos mais rapidamente.
Perguntam-nos agora sobre o porquê dos jovens (e não só) desenvolverem relações de amizade muito rapidamente numa sala de chat ou numa rede social. Eles estão também, como Abelardo e Heloísa, perante uma presença parcial do outro. Uma presença que terá de ser preenchida pela imaginação…
Comentário livre a uma passagem de Abelardo que pode ler aqui
RT, 2012.
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