A mímica, o não verbal, para sermos mais abrangentes, é uma poderosa forma de comunicação. A afirmação é já senso comum e uma infeliz ideia de começar um texto.
No entanto, exploremos a ideia… No filme de Richard Attenborough sobre a biografia de Charles Chaplin passa-se a seguinte cena. Chaplin prepara a sua obra O Grande Ditador, para isso, vê comícios de Hitler e tenta repetir-lhe os gestos. Entra o irmão que discorda do projeto. Durante a altercação que se segue, Chaplin assegura-lhe algo como: «eu conheço este homem, sei que é capaz de tudo».
Independentemente do acontecimento ser verídico ou não – facto que desconhecemos – deparamo-nos com a possibilidade da mimetização do não verbal ser uma forma de nos pormos no lugar do outro.
O segundo caso deu-se num documentário sobre a pianista Maria João Pires. A dada a altura, a mãe afirma que lhe ouviu a seguinte frase: «foi aqui que ele enlouqueceu». A pianista estudava Robert Schumann, um compositor que acabou por perder a razão.
Os intérpretes musicais podem ser vistos como alguém que replica o pensamento de um outro. E replica-o, revivendo o pensamento mas também certas emoções e atitudes. A Maria João Pires reviveu o momento de loucura de Schumann através dos seus dedos, dos seus gestos e do que eles provocam.
Comunicamos mais através do não verbal, regressemos aos lugares comuns, mas a repetição dos gestos permite evocar outros eus, outros tempos de uma forma completamente diferente…
(originalmente publicado aqui)
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Madeleine, pois então: algumas reflexões